quarta-feira, janeiro 13

É sempre por acaso

Diz que foi acaso, estava longe, muito longe, de pensar naquilo, mas é fraca desculpa. A verdade lê-se-lhe no sorriso de pecador confesso, no embrulhado das suas instruções. Tira-me o rato da mão, porque demoro a encontrar o sítio, clica entusiasmado, dá-me uma cotovelada:

-Aqui!

De seguida, agitado, mal me deixando tempo de ver ou de ler, clica em "Companions".

Trava a respiração. Aparece uma série de fotografias em que distingo mulheres, mas o cursor sobe, desce, as imagens confundem-se, até que finalmente anuncia:

- É esta! Susan! Na fila da esquerda. A quinta a contar de cima.

Baba-se em adoração, quase exige que também me babe, repete a cotovelada.

- É linda, não é?

- De facto é.

Quer agora saber se a rapariga me recorda alguém, mas tenho de desapontá-lo, pois não me ocorre beleza que se lhe pareça. Confessa, rindo, que a ele também não, perguntara aquilo por perguntar. O que quer saber de mim é como sair da indecisão em que o põem as forças contrárias, e por igual poderosas, do cio e da algibeira.

- Lê aqui! Bissexual. Aceita casais.

Clica em "Rates" e resmunga:

- Quinhentos e vinte cinco euros por três horas de conversa. A foda oitocentos e cinquenta. Um dia três mil. É dinheiro!

Aceno que sim e acrescento desnecessariamente que, como em quase tudo, hoje nos rege a economia do mercado.

Ele clica de novo na fotografia e suspira, tristonho:

- Já tentei. É uma pena que não se possa copiar.

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PS às 21.45: pena é também que por excesso de visitantes curiosos tenham retirado Susan da lista.