De vez em quando, como se lastimassem a minha permanência num degredo, perguntam-me porque continuo a viver na Holanda. A pergunta é bem intencionada, mas um bocadinho simples. Em primeiro lugar estou nela há cinquenta e três anos, o que é mais que muitas vidas. Depois, família, recordações de bons e maus momentos, ser estimado, o possuir em simultâneo duas existências, dois modos de pensar, de ver, de julgar, duas línguas, duas sensibilidades, são bens que não se deitam fora à ligeira.
Junto a isso tudo há o conforto de uma sociedade bem organizada, pontual, respeitosa do cidadão.
Ando a pensar nisto desde que dois dias atrás, depois de ter caído aos dez graus negativos, a temperatura subiu um pouco e do céu começou a cair uma neve como há tempos se não via. Nas províncias do norte pararam os comboios e não havia maneira de transportar os milhares de passageiros para o seu destino. Que fez a NS, a companhia dos caminhos de ferro? Ofereceu a esses milhares de passageiros o irem para casa de táxi ou pernoitarem num hotel.
De facto o sol não brilha aqui todos os dias, nem a gastronomia é o que deveria ser, mas há compensações.