Por natureza sou bicho-de-buraco, e raro me acontece, como ontem, passar quase o dia inteiro no centro de Amsterdam.
Corpos, caras, feitios, modos, voltei a casa exausto, estonteado, nervoso com o movimento e a sobreposição de tantos milhares de imagens. Nativos e turistas de todos os continentes, a demonstrar a infinda variedade das criações do Altíssimo.
À noite, acalmado, relembrando aquela multidão, sorri do que em 1958 aconteceu ao senhor Gravenstein, que nesse tempo era o meu dentista. Curioso de saber de que terra eu vinha, foi ele no Verão de 1958 passar férias ao Porto. De calções. Passeando na Rua de Santa Catarina, um polícia prendeu-o, levou-o para a esquadra, multaram-no em mil escudos por traje indecente, levaram-no a uma loja para que comprasse calças.
Desde então são muitas as águas passadas, mas ontem surpreendeu-me o grande número de homens de todas as idades vestindo aqueles calções largos que descem até à barriga da perna. Talvez porque conheci o tempo em que o homem usava calças e a mulher usava saia, fez-me aquilo espécie. Mulher de calças? Na progressiva Holanda, ainda nos anos 70 muitas grandes empresas proibiam as calças às suas funcionárias.
Porém, como todos sabemos, as coisas mudam, mudam depressa, não há travão que as pare. Mulher de calças, mulher de calções. Homem de calções... E é aí que quero chegar. Não me contradigam, não zombem. Ontem, no centro de Amsterdam, fui dezenas de vezes confrontado com o futuro próximo: homens de saias! Ainda não verdadeiras saias, mas quase! Uns calções muito largos, muito floridos, tocando de modo coquette a barriga da perna.
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A prenunciar a evolução do traje masculino, este cavalheiro passeia-se assim por Haia e em www.marktplaats.nl , o eBay holandês, oferece-se para serviço doméstico a € 6.00 por hora, no sex
PS. Um gentil correspondente alerta-me para o que não reparei: esta fotografia foi tirada ou montada junto da Sagrada Família, em Barcelona e corre há tempos na internet. Certo é que alguém, usando a mesma imagem, oferece os seus serviços domésticos em Haia. Será o mesmo? Será outro tolo?