A guerra andava lá fora e eu, puto de dez anos, de boca aberta porque eles sabiam tanta coisa, ouvia meu pai e os seus amigos decidirem que o Hitler ia fazer assim, e que o Churchill vinha com outra estratégia, que o Staline avançava, mais isto do Mussolini e aquilo do Roosevelt…
Por volta dos quinze tinha aprendido o bastante para achar cómica aquela sabedoria, mas o que não esperava era que a espécie se mantivesse. Eles continuam a antecipar sobre o futebol e o Tour de France, a política de Obama, as viragens da economia, sabem o que Sócrates vai fazer, previram a crise, conhecem as razões da NASA para não colonizar a Lua…
Ontem, para minha surpresa e pela primeira vez, encontrei a variante feminina do sabe-tudo. A senhora tinha opinião definitiva sobre as questões da Europa e as manhas de Putin, as dependências de Barroso, a gula do Banco Mundial, os minerais do Pólo Norte...
A modo de "Mãos ao ar!" apontou-me os dois dedos que seguravam o cigarro e quis que lhe desse a minha opinião sobre o futuro de Portugal.
Respondi-lhe que não tinha, mas que com Nossa Senhora de Fátima, o Santo Condestável, a santa de Balazar, a santinha de Arcozelo…
A senhora não apreciou. Os sabe-tudo são de muita seriedade e poucas graças.