sexta-feira, junho 26

Chá

Hesitei uns dias, porque não sabia – e ainda não sei – qual a melhor ponta por onde lhe pegar.

O presidente Medvedev esteve em Amsterdam para inaugurar a dependência do Hermitage de São Petersburgo e o protocolo ofereceu-lhe uma volta de barco pelos canais.

Na Holanda há aquele entranhado mito de que, cidadãos, somos todos monotonamente iguais. Por conseguinte, se você faz o chá com um saquinho, o primeiro-ministro faz igual, e não vá o presidente da Rússia julgar que é mais do que nós, diferente, ou melhor. Se quer chá faça-o ele próprio mergulhando o saquinho na água quente.

Na Holanda há também aquela virtude de fazer tudo simples e baratinho. Uma fatia do bolo chega. O bolo inteiro seria um impensável desperdício.

Guardanapos? Os de papel são bons para mim, para si, para presidentes e majestades.

Na certeza de que faz como deve ser, o primeiro-ministro Balkenende prepara o chá e já comeu metade do doce. O presidente russo não tocou em coisa nenhuma. Se não me engano, o ar com que olha é de divertida ironia.

Felizmente que no dia seguinte viajou para o Egipto, terra de grandes desigualdades e faraós, mas onde, desde pequenos, todos aprendem a tomar chá.