Votos não fiz, e às onze já dormia. À meia-noite o vizinho acordou-me, descarregando a caçadeira umas quantas vezes. Seguiram-no outros, e o vê-los assim, os bacamartes apontados ao céu fez-me rir, pareciam garotos a imitar aqueles árabes que manifestam indiferentemente luto ou alegria com rajadas de kalashnikov. Ouviu-se depois um estourar de bombarda.
Não presenciei, mas noutro ano um tarado lembrou-se de atirar uma carga de dinamite para um poço e a água veio encosta abaixo, alguns ainda falam de que parecia o dilúvio.
Na Holanda, diz a rádio, na passada noite estouraram foguetes no valor de sesenta e cinco milhões de euros. Não é pelo dinheiro, que a minha outra pátria é excepcionalmente rica, mas pela contradição daquela gente, que se quer defensora do meio ambiente e mais virtudes modernas, mas empesta o ar de todos e os pulmões dos indefesos com uma colossal massa de fumos e cheiros.
Até 2012, quando o mundo acabar, sobra-nos tempo para foguetórios e tiros assassinos. De boas intenções já o Inferno se encheu e, como antigamente, as promessas são para fazer, ninguém de verdade acredita que sejam sempre para cumprir.
Aqui o dia nasceu a prometer sol e, a julgar pelo que vejo e oiço, pelo menos nestas primeiras horas do ano ainda nada mudou.