Certas peças do vestuário feminino sempre me foram antipáticas. Nunca consegui compreender, por exemplo, o atractivo das jarretelles e, por muito belo que seja, um corpo de mulher enfeitado com sexy lingerie, em vez de me excitar faz-me rir. Do mesmo modo que um fio a separar duas nádegas para mim nada tem de erótico, é só obsceno.
Mas a minha aversão vai menos para esses extremos do que para peças de roupa mais correntes. Bem sei que é exagero, toca o irracional, mas uma mulher vestida de saia-calça desperta em mim poderes de escárnio que noutros momentos me fariam bom arranjo. Com ou sem desenhos, as meias de rede provocam-me sufocações de horror estético. Guardo a penosa lembrança de um dia ter visto, numa cadeira de rodas, uma anciã de saia arregaçada, as pernas paralíticas vestidas com meias de rede enfeitadas de pássaros bordados.
Ainda essas meias não tinham caído totalmente em desuso, já a minha sensibilidade era afrontada pelo porte generalizado de leggings, vestuário que, em vez de camuflá-la, revela cruelmente a fealdade anatómica, acentuando as regueifas de gordura, os poços da celulite, a deformidade das tíbias, os danos do reumatismo.
Mas de verdade não sei o que me incomoda mais nas mulheres que assim se dão em espectáculo: se o seu desdém pela estética ou a ausência de senso crítico.