Porque me acontece pisar alguns dos carreiros transmontanos por onde também ele andou, e a sua prosa às vezes faz eco aos meus sentimentos, releio o Diário de Miguel Torga. Copio do volume XIII:
“Coimbra, 12 de Outubro de 1978 – A mulher! Não me canso de a exaltar. O que o homem é a seu lado! Um Adão inocente, um Édipo perplexo, um Otelo cego. Flor emblemática da Criação, perfumada de futilidade, só ela sabe pecar sem remorsos, procriar sem vanglória, entender sem lógica. E sofrer paradigmaticamente, já que foi sempre a Antígona heróica da grande tragédia da vida. Dona do mundo e depositária do futuro, nunca o quis parecer, sequer. Gentilmente, deixou essa presunção ao pobre companheiro que, depois de tantos milénios de convívio, continua a revolucionar os tempos, sem perceber que é ela o cordão umbilical da História.”