quinta-feira, março 8

Comadres

Dava-se-lhes o nome de cronistas. Escreviam nos jornais uns textos curtos, ora comentário, ora observação ou relato. O tom era o da seriedade, a prosa cuidada, o proveito duplo, porque o lê-los era uma aprendizagem e os seus temas obrigavam à reflexão.
Sob a influência generalizada do inglês, desde há anos que se passou a chamar-lhes colunistas. O tom agora é ligeiro, a prosa descuidada, no melhor dos casos banal a temática. No pior descem à mexeriquice, e quando a mexeriquice falta escrevem uns sobre os outros. “Como dizia fulano na sua coluna de ontem... A perspicaz análise que hoje se lê na coluna de sicrano... ” *)
Assim cavam os jornais a própria cova, servindo-nos, requentado, o noticiário que ontem à noite vimos na televisão, enchendo o resto das páginas com textos banais e fotografias inúteis.
O jornal, que no passado a opinião pública considerava um cavalheiro, tornou-se uma comadre.
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*) Interessante desenvolvimento: os bloguistas vão por caminho igual. Em bom número de blogs nota-se uma demasia de abraços, parabéns, citações, palmadinhas nas costas, com o correspondente e inconfundível cheiro a capelinha.