Aí duns trinta anos, alto de quase dois metros, rosto e crâneo redondos, provavelmente nativo do Ghana. Parou no passeio oposto com a bicicleta pela mão e, voltado para mim, gritou qualquer coisa que não compreendi.
Pedi-lhe que repetisse. E ele repetiu, mas de novo me escapou. Talvez quisesse perguntar o caminho. Atravessei a rua:
- Diga.
- Jesus está vivo!
- Hmm…
- Você com certeza não crê. Não tem cara de crente.
- Olhe que creio.
- Mas não vai à missa.
- Vou sim.
- Então até domingo.
- Até domingo.
A minha mulher não gostou de me ouvir dizer que era crente e ia à missa. Pareceu-lhe uma pouca-vergonha. Mas que fazer em semelhante caso? Levantar questões teológicas com um desconhecido, provavelmente transtornado? Acirrar-lhe o fundamentalismo, ou pior : a loucura? Com uma mentira inócua foi ele em paz, fiquei eu em paz.