sexta-feira, dezembro 31

ABT - 9 (fim)

(© Helmuth Newton)

quinta-feira, dezembro 30

ABT - 8

(© Erwin Olaf)

quarta-feira, dezembro 29

ABT - 7

(© Rachel Weisz)

terça-feira, dezembro 28

segunda-feira, dezembro 27

domingo, dezembro 26

sábado, dezembro 25

sexta-feira, dezembro 24

quinta-feira, dezembro 23

ABT - 1

Aquela minha amiga dos segredos condoeu-se de me ver sombrio e propõe, já que me dá para negrumes, que daqui ao fim do ano deixe de escrever.
Esperançada que isso me desanuvie e ajude a esquecer a neve e o frio, encarrega-se ela de, começando hoje, mandar diariamente uma fotografia da sua colecção, de modo a aligeirar o conteúdo deste blogue e, eventualmente, fazer crescer água na boca aos/às visitantes. 
As duas primeiras fotografias contam a história de uma vida. Cada um/a interpretará a seu modo.


        

Natal

(Clique para acender as luzes e pôr o cão a abanar o rabo)
Natal branco de neve? Visão romântica. Nós aqui vamos ter um dos Natais mais brancos de sempre, mas poucos acharão graça e a mim foi-se-me a boa disposição.
Desde que cheguei, dez dias atrás, saí uma vez à rua, mas nem estas ferraduras evitaram o tombo. Carro? Contra a porta da garagem ergueu-se um muro de neve, gelou, mais facilmente se deitaria abaixo se fosse cimento armado. Adeus mobilidade.
Daqui a nada recomeça o nevão, o vento sopra da Sibéria e nos próxima dias, talvez até ao Ano Novo, a temperatura baixará para os dez negativos.
Natal branco de neve? Quem dera um com bacalhau cozido, arroz doce, rabanadas, bolo-rei, vinho fino e solzinho de inverno.
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As caleiras estão assim:


quarta-feira, dezembro 22

Lojista

A época é natalícia, cheia de bondades, cânticos, presépios, boas intenções, amor do próximo, mas o sujeito não pode comigo, eu posso mal com ele, e como não nos conhecemos em pessoa, só da escrita, não vai ser à bruta, um caso de murros, esboço-lhe com palavras o retrato e assim me vão doer menos os dedos.
Sabe de tudo. Muito. Pintura, política, relojoaria francesa, glaciares, motores Diesel, África, Médio Oriente, Lucas Cranach, gastronomia do Maghreb, Renascença, geografia da Indonésia, história da Ucrânia… um sem-fim.
Conhece você Magtymguly Pyragi, o clássico turquemenistanês do século XVIII? Nunca ouviu falar? Pois conhece-o ele, e não pergunte, que se arrisca a uma prelecção tão minuciosamente detalhada sobre esse venerando que vai sentir ouras.
É poeta. Publicou três romances que os amigos elogiaram. Não os procure, que não encontra, nem insista, porque, aconteceu-me a mim, o livreiro é capaz de desatar a rir, gozando que o enfatuado dono de tão espaventoso saber seja oco no verso e desenxabido na prosa.
Sabe de confeitaria, dos produtos Gucci, da Literatura de Cordel do Nordeste do Brasil, dos amantes da rainha Vitória, das ilhas Lofoten, de locomotivas do século XIX, do fabrico de porcelana, das doutrinas de Thomas à Kempis, dos costumes do Hawai. É, como se dizia antigamente num tom de respeito e assombro, enciclopédico.
Tudo verdade. O homem é de facto enciclopédico. Inteligente de sobra também. Poderia ser mesmo agradável não fosse a inveja que o corrói. Porque, fama alheia, boas palavras sobre alguém, êxito de amigo, vizinho, colega, ou desconhecido, logo ele empalidece de raiva e azedume.
Aquilo, creio, vem-lhe de família. Descendesse de gente de espírito por certo o apregoaria, mas prudentemente cala que entre os seus é o primeiro sem loja aberta. E é, creio eu, essa herança de lojista que lhe torna a vida um inferno.
Homem do balcão conhece apenas duas molas: a do lucro e a da inveja. Seja o que for, o que vai para os outros é-lhe de facto devido, é seu, não o recebe porque lho roubam.

terça-feira, dezembro 21

Esqueça os livrinhos de Natal

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Rebeldia

(Clique para aumentar)
Aprecio os rebeldes inteligentes e consequentes. Freeman Dyson (1923) é desses. Físico  famoso e respeitado, trabalhou com Niels Bohr, Oppenheimer, Bethe, Teller, Feynman, ocupou a cátedra de Física na Cornell University e no Institute for Advanced Studies de  Princeton. O politicamente correcto não é com ele. Em recente  entrevista com o semanário neerlandês Elsevier toca, entre mais, estes interessantes pontos que a seguir traduzo:
"Os efeitos do aquecimento global, segundo Dyson, serão mais vantajosos que prejudiciais. Os seus cálculos sobre o dióxido de carbono levam-no a concluir que: Muitos leigos crêem que esse gás na atmosfera resultará em séculos de desastre. Nada menos verdade. Uma molécula de CO2 permanece apenas sete anos na atmosfera, sendo depois absorvida pelos oceanos ou pela vegetação. É um equilíbrio muito dinâmico e totalmente ignorado pelo público.
Um facto matemático que também deveria ser mais conhecido, acha Dyson, é existir uma função logarítmica nos efeitos físicos do CO2. O que significa que quanto maior for o volume desse gás na atmosfera, mais diminuirão os seus efeitos. Do ponto de vista da sociedade isso é extremamente tranquilizante.
- É interessante  notar – diz o jornalista – que muitos (cientistas) cépticos acerca do aquecimento global são pessoas idosas. Porque será?
Dyson permanece calado alguns segundos, o seu olhar preso no do interlocutor:
- Os cientistas idosos são financeiramente independentes e podem falar com toda a liberdade… Fora de dúvida existe um lobby do clima. Há um vasto número de cientistas que ganha dinheiro assustando o público. Não digo que o façam conscientemente, mas é facto que muitos rendimentos provêm desse medo.
O presidente Eisenhower disse um dia que o poder dos militares em determinado momento se torna  perigoso, pois é tão grande. O mesmo se constata com o lobby do clima: com o poder de que dispõe torna-se perigoso."

Para alegrar o dia

Li há momentos no jornal neerlandês Het Parool esta definição do "politicamente correcto" dada pelo escritor belga Wim van Rooij: 
"Pega-se no cagalhão pela ponta mais fina e enaltece-se o seu fino aroma." 

segunda-feira, dezembro 20

Lavagem

Bom seria, poder limpar o cérebro como se lava a cara, mas não há água nem sabão que ajude. Assim, por nada coisa nenhuma, toma-nos o azedume. Queremos sossego e em vez dele vêm os pensamentos aos trambolhões, a memória acirra o que desejamos esquecer, repisa o que nos afligiu, repete ad infinitum  palavras que incomodaram. Assuntos mesquinhos tomam proporções de nuvem negra. Uma banalidade faz disparar raivas. Envolve-nos que nem capote a tolice alheia, a desmesura das vaidades, a impertinência dos pequeninos orgulhos, a fanfarronice.

Li ontem à noite uma entrevista com Harold Pinter, em que este dizia ter levado quase cinco anos a escrever a sua peça The Homecoming. Pouco depois, num blogue de literaturas e curiosidades, aprendi que um jovem compatriota em nove anos escreveu já vinte e nove obras.
Porque me incomoda isto? Como seria bom poder limpar o cérebro como lavo a cara.

domingo, dezembro 19

Manhã de neve

(Clique para aumentar)
Se fosse só a neve, bem ia, mas a carapaça é neve que gelou. e de pouco adianta pôr o motor a trabalhar, aquilo leva eternidades a ser raspado.

sábado, dezembro 18

"Dirty Dancing"


Dirty Dancing. Dançar não é comigo, mas recordo que quando o vi (1988?), se achei o enredo do filme assim assim, a coreografia e a souplesse dos actores eram um surpreendente espectáculo.Porém, tudo muda, tudo se avacalha, e ontem,
popular programa da televisão neerlandesa (De Wereld draait door - O Mundo continua a girar) lá veio esta versão curta de Dirty Dancing. Não agradará a todos mas é muito do nosso tempo, e eu poderia fingir de sisudo, mas confesso que ri. Começa aos 32' 27" e é repetida logo a seguir.
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Ontem ainda se podia ver, depois alguém o censurou (Google? A emissora holandesa?) e a cena desapareceu.

sexta-feira, dezembro 17

Segredos

- Não tenho segredos.
Os cinco que estamos com ele à mesa decidimos pegar nos copos e beber, não aconteça possuir dons de adivinho e dar-se conta de que nos perguntamos se aquilo é ingenuidade ou estupidez.
- Não tenho segredos. Nunca tive.
A repetição sai-lhe num tom entre beato e triunfante, encara-nos como se merecesse aplauso, felizmente a conversa toma outro rumo, escondendo os pensamentos.
Haverá gente sem segredos? Passados os quatro ou cinco anos haverá vida sem mentiras, traições, dores que se não contam, pecados, horrores, infidelidades, vícios vergonhosos?
Que mistério do intelecto levanta as névoas que impedem alguns de ver as próprias falhas?

Uma amiga, casada, portuguesa, inteligente, maliciosa, brilhante profissional do Direito, senhora de si em extremo e mulher de muitos segredos, mandou-me há tempos esta fotografia  e três palavras a acompanhar: "Imagina se soubessem!"


(Clique, clique)

terça-feira, dezembro 14

Perdas & Ganhos

(Clique se precisa de aumentar)
A adolescência passou rápida, juventude creio que não tive, mas uma certeza vem-me de longe, a de que nasci idoso.
Digo isto porque é forte o contraste entre a minha precoce velhice e a benesse que tantos receberam e, mesmo no Outono da vida, lhes permite continuarem jovens.
Conheço alguns, mas são modorrentos, pois se mantêm dentro dos limites e respeitam as conveniências. Agradam-me mais certas senhoritas e muchachos da blogosfera, e de vez em quando, se se amontoam as nuvens do aborrecimento, faço-lhes uma visita, descubro nelas e neles como foi escasso o que tive, muito o que me faltou, mais ainda o que perdi.
Amordaçam-nos os medos, claro, a vergonha, as convenções, Deus nos livre de sairmos à rua com os nossos vícios e desejos, mas quanto sonho imberbe há por ali, quanto frenesim,  quanta impotência também. Namorados e namoradas, amantes, onanismo, s-m e orgias, tercetos, quartetos, não se me esbugalham os olhos porque tenho lido o preciso, há mais de setenta anos que vou ao cinema e vejo televisão desde os começos, mas que abano a cabeça abano.
Aliviado do aborrecimento e satisfeita a curiosidade, põe-se-me a pergunta para a qual ainda não encontrei resposta: será melhor não ter tido ou ter perdido?

segunda-feira, dezembro 13

Um buraco


As recordações vão apagar-se, mas que impressões restam de uma viagem de dois dias e meio, dois mil cento e três quilómetros, que se repete quatro vezes por ano desde há quase uma década? Pouca coisa. 
Milagroso tempo soalheiro. O espanto de nos vermos, a minha mulher e eu, únicos hóspedes do excelente hotel Europa-Centro em Magaz de Pisuerga, cento e vinte e dois quartos, boa cozinha, sempre tão cheio que é indispensável reservar.
- La crisis! – lamenta a recepcionista .
Auto-estradas vazias, Pirinéus sem neve, mau jantar no Novotel de Poitiers. As meninas das cabines da Péage têm o sorriso, o charme e a beleza de quem estuda Dramaturgia e um dia destes é estrela. Grande contraste com as colegas do País Basco, figurantes num filme de Tarantino.
Manhã do terceiro dia. A neve e o gelo do fim-de-semana deixaram marcas no piso da auto-estrada, na faixa da direita há buracos, aqui e ali está fechada. Finalmente, a uns cinquenta quilómetros antes de Paris, pode-se circular livremente a cento e trinta à hora.
A boa distância à nossa frente vão quatro ou cinco carros, e de súbito o irreal acontece: o BMW que circulava na faixa central levanta voo, aterra no asfalto e rola umas quantas vezes, vêem-se dois corpos. Travamos. Um homem salta de um carro com o triângulo vermelho na mão e, com perigo da própria vida, pára o trânsito. Alguém corre para o SOS ali perto. Nesse instante vejo um dos corpos levantar-se, mulher de meia-idade elegante, casaco de peles. Uma outra mulher quer ampará-la, dar-lhe o braço, mas ela recusa e tira um telemóvel, começa a falar, acende um cigarro, anda para trás e para diante com o ar absorto de quem entrou num café.
- Está em choque – diz o meu vizinho – Daqui a nada desmaia.
O outro corpo, um homem, continua imóvel, escorre dele sangue que faz uma pequena poça. O carro parece ter sido prensado, as rodas foram parar à berma, não se compreende que os dois corpos não tenham sido totalmente esmagados.
Chega a Polícia, ouvem-se ambulâncias, a mulher finalmente aceitou o braço caridoso, e nós continuamos a viagem, olhos na estrada, mal ousando imaginar o que acontece quando um carro a centro e trinta encontra um buraco.
Recomeçou a nevar.