sexta-feira, julho 22

"Douro - Maravilhas do Património"


 Excerpto do Prefácio:

"Bem podem os de pouca fé dizer que não há destinos, com eles não vou gastar palavras nem entro em discussões, bastam-me as minhas certezas, neste caso a de que  entre mim e o rio Douro há um destino, uma combinação de circunstâncias que sempre, mesmo quando estou longe, duma maneira ou doutra me leva ao seu encontro.

Investigando datas, acontecimentos e deslocações de meus pais, é quase certo que fui gerado na noite de 10 de Agosto de 1929, não muito longe do sítio transmontano onde o Douro entra em Portugal, e a 15 de Maio de 1930 nascia no Largo do Monte dos Judeus em Vila Nova de Gaia, ele defronte da janela do meu quarto, quase a desaguar no Atlântico.

Nada de mais prosaico, dirão os espíritos materialistas, por natureza avessos a mesmo por um instante considerarem que entre a Terra e o Céu exista o que os nossos olhos não alcançam, mas serei eu o último a querer catequizá-los, pelo que faço pé firme naquilo em que acredito.

Desse modo, desde o instante em que nasci e durante os quinze anos seguintes, o Douro foi para mim bem mais do que um rio e paisagem, não exagero se disser que nas suas águas e margens foi teatro, foi cinema, circo, enciclopédia, quermesse, romaria, Pátio dos Milagres, uma agitação caótica na aparência, mas obedecendo aos subtis esquemas que ali regiam a vida, como se um invisível mestre de cerimónias ordenasse a cada um o lugar que lhe pertencia, e conseguisse que sem excessiva rebeldia nele se mantivesse."