sábado, dezembro 26

"Negacionismo"

"A propósito, somos diariamente informados de quantos morrem “com” e talvez “por” Covid. Quantos se salvam da Covid graças à “estratégia”? O povo, maioritariamente favorável à “estratégia”, não faz essa pergunta. O povo, instigado por políticos inqualificáveis e “media” submissos, receia o que o mandam recear e não faz perguntas. Aos poucos que as fazem, a ortodoxia chama “negacionistas”, erguendo de súbito a Covid ao estatuto do Holocausto.

Convém notar que “negacionismo”, na acepção de negar a realidade, é aceitar as “medidas”, as restrições, as humilhações, as falências, as doenças e as mortes, milhares de mortes, a pretexto da Covid. “Negacionismo” é resumir o mundo à Covid em prejuízo do que sobra. “Negacionismo” é acreditar que “lá fora” é igual, e que todos os países têm o excesso de mortalidade “não-Covid” que Portugal tem, e que todos os países impõem as regras grotescas que Portugal impõe, e que todos os países são susceptíveis à prepotência e à miséria como Portugal é. “Negacionismo” é, perante um cenário de cadáveres e ruínas, elogiar as “autoridades” responsáveis pelos cadáveres e pelas ruínas. “Negacionismo” é o brutal desprezo pelos danos infligidos nos que nos rodeiam, na solitária condição de que nós não apanhemos o bicho. “Negacionismo” é este egoísmo terminal e esta cegueira. A Covid trouxe ao de cima o pior dos portugueses."

Alberto Gonçalves / O Observador