sábado, abril 25

De joelhos


Nunca fui de medos, mas agora sou por lei obrigado a temer o meu semelhante, fugir dele se se aproxima, achá-lo perigoso e nojento quando por acaso tosse ou espirra.
Depois do estado de emergência virá o de calamidade, outros seguirão, e quando for ao restaurante vão-me obrigar a lavar as mãos –  será que eles nunca as lavam? – vão-me medir a temperatura, o restaurante mais chique passa a self-service, o pessoal não se aproximará, mesmo acautelado com luvas e máscaras.
Outras proibições e impedimentos hão-de vir, porque eles lhe tomaram o gosto, descobriram que nada põe o Zé Povinho tão depressa de joelhos, calado, sem vontade de refilar, como o medo da infecção.