terça-feira, fevereiro 12

A culpa é dos gangues


A culpa é dos gangues

Comentar e explicar há de sobra quem o faça, pondo de lado que a realidade suporta mal as teorias, e aos cidadãos, aos homens da rua que somos, não cabe mais que observar, sentir, e abstermo-nos de julgar.
São pessoais as razões porque desde os anos 60 admiro a Suécia, um país que não somente tinha ganho fama pela beleza das suas raparigas e os filmes sombrios de Ingmar Bergman, mas se mostrava exemplar no campo social. O seu nível de solidariedade e justiça tocava o excelente, o mesmo era válido para a qualidade das escolas, para o esforço que lá se fazia para diminuir a desigualdade, em nenhum outro país se conheciam os benefícios concedidos às mulheres para lhes facilitar as canseiras da maternidade.
A Suécia destacava-se ainda pela sua atitude humanitária, dando guarida a oprimidos e refugiados. Foi assim que ao terminar a Segunda Guerra Mundial acolheu os milhares de estonianos que fugiam da União Soviética, depois milhares de chilenos e argentinos ameaçados pelas ditaduras, nos anos noventa aceitou a grande enchente dos que escapavam à guerra nos Balcãs. Recebendo a todos de braços abertos, a Suécia conseguiu que se integrassem de modo  exemplar.
A situação viria a conhecer uma reviravolta em Setembro de 2015, quando em média começaram a chegar diariamente dois mil refugiados do Médio-Oriente e da África, atraídos pelo discurso em que o Primeiro Ministro Löfven afirmara: “A minha Europa não levanta muros, a minha Europa corre a ajudar.”  Entretanto, nesse mesmo ano o número de refugiados ultrapassava já 160.000,  desde então os atritos têm vindo a aumentar, é sensível o impacto causado pela massa de imigrantes numa população de apenas 10 milhões.
O Primeiro Ministro que não queria muros, pondera agora chamar o Exército para intervir numa situação que excede a capacidade de resposta por parte do governo. No último ano houve mais de 320 tiroteios, dezenas de explosões, 110 assassinatos e para cima de sete mil violações, que não terão seguimento, dada a  sobrecarga de trabalho das autoridades. Num mês foram incendiados mais de setenta automóveis, e nas ruas de certos bairros onde a Polícia não entra, vêem-se rapazes de catorze, quinze anos, orgulhosos dos seus coletes antibalas e armados com kalashnikovs.
Porque tem olhos e ouvidos, conheceu melhores tempos e se sente indefeso, o povo aceita mal a explicação do Primeiro Ministro, de que se trata de guerra entre gangues. Assim fosse, mas é mais: é a derrota do idealismo pelo pragmatismo.