sábado, novembro 5

O que penso de Trump?

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Foi daquelas paixões a que os românticos chamam avassaladoras. Casaram num país onde as palmeiras se curvam à brisa, a areia das praias é branca, o sol brilha sem falta, os indígenas sorriem como quando ainda havia Paraíso.
Surpresa na noite de núpcias: ela, virgem, pediu-lhe que esperasse. Esperou. Depois semanas, meses, torturado pelas forças contrárias do desejo, do amor, da decepção. Ela finalmente cedeu, mas a ocasião deixou em ambos má lembrança, o sexo viria a ser esporádico, sem alegria nem gozo.
Parecerá bizarro, mas esses são os mistérios da alma, viviam em paz. Depois a meia idade veio, e um dia, por uma futilidade, a tempestade rebentou, gritaram-se os desesperos, as raivas, as ilusões perdidas, as culpas mútuas, a recordação do amor que os devorara.
Conta que nesse momento a poderia ter matado, mas à noite, na cama, quando os corpos por acaso se tocaram, amaram-se como tinham sonhado e nunca acontecera: com fúria, com paixão, acendendo todos os lumes, queimando neles o passado.
- É estranho, não é? – diz ele, parecendo estonteado pela confidência.
Olha o relógio, e numa inesperada mudança pergunta-me o que penso de Trump.
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