terça-feira, maio 17

Blogues e diários

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A sério ou não, o blogue para mim é conversa, conversa imaginária. Fantasio interlocutores num café virtual, suponho neles qualidades de sabedoria, cultura,  inteligência, e uma atenção educada. Resumindo: um passatempo inócuo,  maneira de me imaginar no mundo, participando sem agravos nem aborrecimentos, de facto com mentalidade nada diferente da que, em criança, me levava a revolver os cobertores da cama, fantasiando a imponência dos Alpes.
Um diário é outra coisa. Entram nele dores e confissões, os momentos de paz, mas também as horas de raiva, os desesperos da impotência de nada poder consertar do que está errado, torto e retorcido, injusto. Para mim, escrever um diário fere mais do que alivia, porque intento, sem que me poupe, deixar nele o mais que consigo atingir de sinceridade no expor das minhas falhas.
Talvez pareça vislumbrar-se aí algo de ascese e depuração, mas o que de facto lá deixo são dolorosos ajustes de contas comigo mesmo. Fi-lo com Tempo Contado (1994-1995) e, uma segunda vez com Pó, Cinza & Recordações (1999-2000).
Anteontem comecei o que deve ser o último, pois por muito interessante. movimentada e surpreendente que uma vida seja – a minha tem sido – chegam sempre os momentos de inevitável fastio, o enfarte do déjà vu.