quarta-feira, novembro 18

Sem favor, antes grato

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Em Português, se faz favor, de Helder Guégués, é de facto um guia fundamental para escrever bem, e quando ontem lhe peguei surpreendi-me a abanar a cabeça, descobrindo-me pecador de "Alguns erros mais comuns". Daí que o remédio será lê-lo de fio a pavio e tê-lo à mão para evitar deslizes.

Do posfácio de Desidério Murcho:

"O desmazelo a que a língua portuguesa tem sido votada, não é senão o resultado do desmazelo cultural endémico no nosso país, mas o importante a notar é que este desmazelo não é apenas uma infelicidade para aqueles que têm uma vida cultural activa; é uma infelicidade para todos os portugueses, porque afecta as decisões económicas, políticas, educativas e quotidianas que a todos dizem respeito. Pensar cuidadosamente, não é apenas um luxo estético, mesmo que a estética fosse um luxo e não uma expressão comum do que é fundamentalmente humano nos seres humanos; pensar cuidadosamente é a condição de possibilidade do desenvolvimento económico, social e pessoal"
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"A língua portuguesa tem enfrentado dois obstáculos de monta ao seu apuramento, um mais geral e quanto ao qual nada de meramente linguístico pode ser feito, e outro que diz respeito mais especificamente à nossa relação com a língua, mas ambos estão intimamente relacionados. O aspecto mais geral é o relativo atraso cultural português, que é endémico e que em nada beneficiou do fechamento salazarista do país, que durou até 1974. Depois disso, para mal dos nossos pecados, fomos colonizados pela cultura popular e científica americanizada e foi como esfaquear um doente em estado terminal. Se a pouca produção cultural significativa já era uma desgraça, a imitação linguística do linguajar norte-americano colocou populares e académicos na situação desgraçada de serem estrangeiros na sua própria língua: incapazes de exprimir em português de gente o que querem exprimir e obrigados a usar estruturas sintáticas americanas e léxicos que em português querem dizer uma coisa diferente do uso que lhes é dado, só porque são léxicos semelhantes aos ingleses."