quinta-feira, maio 21

A palmatória

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É profissão que com gosto, contentamento, proveito para mim e para outros desempenhei trinta e poucos anos, mas ensinar não é a minha paixão. Aprender sim, e felizmente todos os dias aprendo, não pela ganância de amealhar um capital de conhecimento, ou de me querer sentir superior pela erudição, mas pelo simples gosto da descoberta e, na medida que a cabeça que tenho mo permite, afinar o entendimento.
Por vezes, todavia, como num acesso de febre, ocorrem situações em que o mestre vem ao de cima, imagino-me então de dedo erguido, pronto a dar a este ou àquele a lição que merece. Felizmente, só raro chego ao que se poderia chamar vias de facto, deito mão à sabedoria dos provérbios, dizendo-me que não vale a pena gastar cera com ruim defunto ou, à francesa, que l'enjeu ne vaut pas la chandelle.
Mesmo assim há horas em que só por triz escapo à tentação de leccionar, de chamar os bois pelos nomes, sentindo pena de que a palmatória tenha caído em desuso.