sábado, fevereiro 7

As minhas setas

(Cique)

Razões para ironia sempre encontrei de sobra e confesso tê-la alegremente usado até me dar conta que era pouco o alívio que daí tirava, nulo o efeito do meu veneno. Se de vez em quando me sinto tentado a zombar, a verbalmente zurzir a bazófia deste, as pretensões daqueloutro, nas mais ocasiões poupo-me a canseira e encolho os ombros. 
Essa retirada, contudo, não tem a ver com um qualquer sentimento de piedade cristã, resulta apenas  do cansaço que me provocam as escassas variantes da prosápia do meu semelhante em geral e dos colegas de escrita em particular.
Como se tal não bastasse, a muita idade também não ajuda. É que já vi o filme, tive de suportar a repetição daquele discurso, ouvir os ditirambos, ver os salamaleques, perguntar-me qual é o benefício do espectáculo.
De modo que as mais das vezes pouso o meu imaginário arco, guardo as setas na aljava, deixo o semelhante em paz e vou à minha vida.