terça-feira, maio 7

Infelizes


A ideia que tenho é de que foi no último Verão , uma daquelas notícias de jornal que se lêem com o  olhar vago, mas de qualquer maneira, talvez pelo absurdo, o exótico, o inesperado, ficam penduradas na memória.
Tratava-se dum inquérito em que cientistas de várias ciências tinham medido o grau de contentamento dos povos europeus, e nele surgiam os holandeses como os mais felizes. Nós, mau grado o sol e outras benesses, fechávamos o pelotão dos infelizes e descontentes.
Porque me entristeceu o resultado dessa investigação científica, grande foi o júbilo que senti ao ler uma entrevista no Financial Times, onde uma Claudia Senik (48), catedrática e cientista, explicava as razões que empurram os franceses a colocar-se entre os europeus mais infelizes.
Segundo ela deve-se isso à extrema exigência do sistema escolar francês, no qual só raros conseguem brilhar. Daí resulta que os adolescentes criam complexos de inferioridade, e  uma vez adultos é neles quase nula a autoestima e a autoconfiança. A catedrática terminava  afirmando que os franceses devem ser menos exigentes consigo próprios.
Um jornalista holandês, referindo a mesma entrevista, assinalava que "os holandeses são felizes porque facilmente correspondem à expectativa que de si próprios têm, cujo nível é baixo. Numa escala de zero a dez, contenta-os um seis; se numa corrida não vencem a medalha de ouro, mas a de bronze, já acham bastante."
De modo que talvez os holandeses ganhem se passarem a sentir-se infelizes, exigindo mais de si próprios. Por sua vez nós, os húngaros, os franceses, e outros europeus sombrios, devemos moderar a ambição, correr menos atrás de quimeras.
Aqui chegado, não me surpreenderei se no remanso do Verão ler no jornal que as conclusões do inquérito estavam erradas e, com gráficos e listas, outra sabichona vier determinar os porquês da nossa alegria e da nossa infelicidade.