segunda-feira, abril 8

No JL

Não líamos um romance inédito seu há alguns anos. Foi demora intencional?
Em 1972 foi editado 'O Rebate'. No fim da década de 90, por cuidado do generoso Leonardo Freitas, foram publicados cinco romances meus.  Ninguém deu por eles Passou-se mais uma década até a Quetzal editar ''Com Os Holandeses'. Demora intencional? Quando os meus livros me deram algum nome na Holanda, e muitos o sabiam? Acho que terá sido antes desinteresse, e não só dos editores, mas daquela gente que cria as modas e as correntes. Sujeitos como eu em geral caem fora, ficam fora e longe. Para que entrem tem de haver milagre ou um editor com espírito garimpeiro.

 E houve algum facto, história, curiosidade, a desencadear este regresso à narrativa longa?
Sim, houve histórias que me contaram, e que não eram propriamente para ser contadas. Mas com algum arranjo, sobrepondo-lhe um enredo, uns tantos personagens menores para despistar, e um ou outro alçapão, dei-me conta que havia material para um romance totalmente diferente dos que antes tinha escrito. Creio, aliás, que não voltarei tão cedo ao género, pois é difícil manter a sequência e evitar que os personagens não baralhem o enredo. Como exercício foi excelente, ensinou-me até onde posso ir e onde devo parar.

Que traumas escondem Jorge e Sarah, protagonistas deste livro?
Terá de ser o leitor a descobrir os traumas de ambos, e perguntar-se em que medida se identifica com eles, ou descobre em si vontade de se tornar psiquiatra.

Um livro ao jeito de um policial, ao ritmo de um thriller. São géneros que lhe agradam?
Desde aí por volta dos oito anos até hoje continuo a ser um enorme consumidor de  thrillers.   Maus, bons, excelentes. Dashiell Hammett, Elmore Leonard, os primeiros romances de John Le Carré, um esquecido John D. MacDonald… Acrescento ainda os nomes de Graham Greene e Somerset Maugham, que contribuíram muito para a minha formação.

Mentiras, diamantes, crime organizado, negócio de armas, exploração dos recursos naturais. Previne o leitor que esta é uma obra de ficção. Mas também parece um olhar sobre o mundo contemporâneo.
É uma obra de ficção no género a que Graham Greene chamava entertainment. Convida a imaginar o que terá acontecido, ou o que teria podido acontecer, e ora aguça a curiosidade do leitor, ora lhe oferece oportunidades de sonhar. Ao fim e ao cabo o mundo é menos como o vemos do que como o sonhamos.

E lê-se na contra capa que esta história tem como pano de fundo um “país corrupto e corrompido, entre aos seus segredos de família”. É assim Portugal?
Sim, sabe-o você, sei-o eu sabemo-lo todos: Portugal é um país vergonhosamente, tristemente, pobremente corrupto. Para mal dele e de todos nós, até para mal dos que o corrompem ou se deixam corromper.