terça-feira, abril 10

O fardo

Faço o que está nas minhas forças para julgar amigavelmente e piedosamente o semelhante. Mas cansa muito, e por vezes, tal besta de carga que não aguenta o fardo, vou-me abaixo, sai-me então o veneno em golfadas.
Felizmente, porque também isso os anos me ensinaram, guardo o balde do vómito onde não cheire nem incomode. Verdade é que não me viria proveito se o despejasse, tão-pouco se incomodariam com ele os que o merecem, que esses são gente de cavalarias altas, cheios de si, e que só a si vêem.
Comigo sózinho, bem estou, mas a vida obriga a sair. Vem o semelhante, sorriso pronto, mão estendida, ressudando vaidade e arrogância. Palmadinha nas costas.
Sem intróito, diz ele assim:
- Venha lá a casa. Quero que me assine uns livros que lá tenho.
Dei-lhe uma resposta torta. Parece que estranhou.