sábado, junho 11

Sábado


Há alturas em que, distraído, cansado, ou dando-me os ares que os outros esperam de quem já muito viveu, me digo que são escassas as novidades e o comportamento do semelhante tende para uma previsível repetição.
Como se os deuses que governam esse ministério se divertissem a corrigir a minha estulta arrogância, logo recebo um inesperado pontapé, vem-me doutro uma sacanice, falta este à palavra, esquece aquele de devolver o cartão de memória que lhe emprestei  - sim, o de 4GB; não é pelos trinta e oito euros, mas pelo "esquecimento" – pede este um favor no tom de quem me considera obrigado, sugere a senhora que em vez de comprá-lo na livraria acharia bonito – acharia bonito! – que eu lhe oferecesse o livro que tanto gostaria de ler.
O seu ternurento rebolar de olhos, em vez de me amolecer acende ganas assassinas, mas nem a esfaqueio, nem mando para o raio que a parta, produzo um sorriso que, fosse ela capaz de interpretá-lo ou pudesse ler pensamentos, a faria correr a sete pés.

Nas manhãs de sábado, rememorando as semanas que passam, vou aprendendo à própria custa que nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, muito nos engana e aborrece.