sexta-feira, junho 24

Mundo perdido


É um mundo perdido, passado, existem resquícios dele na tenacidade destes homens e mulheres que, quase centenários, cavam na horta, podam oliveiras, regam o palmo de terra que dá as batatas que, para eles, não são só comida, mas lembrança do tempo em que, com um naco de centeio, eram o sustento.
Saem ao romper do dia. Desconhecem horários e feriados. Interessa-lhe a água da rega e o florir das oliveiras, nada querem com o mundo onde se agitam os bisnetos e a gente de cidade, espécie estranha  que por vezes apercebem.
Frugais, forretas, temem o Senhor, desconfiam da lei e do forasteiro, o colchão é o seu banco, conhecem a valia das aparências e há muito aprenderam que, de todas, a da humildade é a mais segura.
Existem num mundo perdido,  desinteressados do ontem, indiferentes ao amanhã, presos a um hoje que infinitamente se repete e, em monotonia, se assemelha a uma eternidade.