quinta-feira, junho 2

À esquina, na Praça da Batalha

Os que vivem seguros do hoje e do amanhã, passarão sem notar. A mim assustam. Personificam os mil destinos dos que nasceram para descartados, os que a sociedade deixa por conta.
Homens nas esquinas, olhar inquieto, seguindo não se sabe quê, maço de cigarros e isqueiro na mão. A dar ideia de que estão ali com um fim, mas de verdade, também eles, à espera de Godot, o eterno desespero que alimenta todos os vazios.
Acenam para o outro lado da rua, onde passa alguém que os não vê. Gesticulam a ajudar o camionista que estaciona. Perguntam as horas. Sorriem à rapariga que anda a distribuir folhetos. Tamborilam no maço de cigarros vazio. Procuram qualquer coisa nos bolsos. Fazem girar o isqueiro entre os dedos. Trocam de esquina.
Atentar neles dá calafrios e torna académica a expressão "o nosso semelhante". Saímos dali fingindo uma sem pressa, um pouco adiante logo os esquecemos.