terça-feira, junho 28

Álvaro

Com toda a simpatia que merece, ao ministro que nesta terra de doutores, professores, professores doutores e outras excelências, quer ser tratado por Álvaro, digo eu que estamos mal parados se, ignorando os mores nacionais, aplicar à Economia igual ingenuidade.
É que a respeito da questão que levantou, nem ele imagina as possíveis consequências, pois no desejo de ser gentilmente familiar bem lhe pode acontecer que ponham em dúvida o seu doutoramento, pelas mesmas razões que alguns põem em dúvida a minha licenciatura.
Eu explico. Por vezes bate aqui gente à porta, perguntando se "o senhor doutor está". A minha mulher, holandesa de nascimento e modos, se lhe cabe atender responde conforme as circunstâncias, e umas vezes diz "o José saiu",  ou "vou chamar o  José", e assim por diante.
Parece normal e correcto? Pois, caro Álvaro, não é, e as chamadas almas simples estão longe de sê-lo, de modo que se criou nelas a suspeita de que a minha licenciatura nem será das passadas ao domingo, mas inexistente.
- A mulher também nunca fala de doutor! É só José. Se fosse doutor era doutor, chamavam-lhe doutor.
De facto, por exemplo no restaurante de Moncorvo onde frequentemente almoço, rodeado de senhores doutores e senhoras doutoras, a gentil proprietária e o mais pessoal tratam-me por "senhor Rentes" (senhor José seria um grau abaixo) o que se assemelha a uma curiosa discriminação ou se deve ao facto de que, como já opinaram, não tenho "cara de doutor".  E o caso é que, além de não querer ser "doutor", tenho de aceitar que nem todos os doutores são iguais,  alguns são mais doutores do que outros e, ainda por cima, há os que têm fato, gravata e cara de doutor.
Portanto, meu caro, como você, à semelhança do Professor Marcelo – tratamento topo de gama – nunca chegará a Professor Álvaro, avise-se comigo e traga no bolso umas fotocópias do doutoramento, não vá correr os risco de que, entrando no restaurante com os "doutores" da comitiva, o tratem por "senhor Santos".
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A tolice das formas de tratamento na nossa sociedade sempre me incomodou  e já antes toquei no assunto: http://tempocontado.blogspot.com/2008/05/ol.html