terça-feira, março 1

Kolkhozy

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Tenho, desde que me conheço, uma forte tendência para arranjar lenha com que me queimar. De vez em quando consigo reprimi-la, noutras alturas a própria vida acciona o travão, mas em certas ocasiões, quando reparo por onde me meti, já é tarde demais para arrepiar caminho.
Faço planos, uns mais desvairados que outros, mas todos com suficiente carga de irresponsabilidade que não se desculparia num jovem, quanto mais num geronte.
Eu, que no diário sou de grandes preguiças, nesses momentos aberrantes descubro-me envolto por um turbilhão de ideias que, iludo-me, concretizadas em actos, revolucionariam isto, melhorariam aquilo, trariam união onde há desavença, dariam esperança aos que desesperam, fariam sorrir os desconsolados, e mais, muito mais.
Vale-me que nunca soube, e é tarde para aprender, como se passa do sonho para a realidade, ou como, vencendo desaires, se leva por diante um plano. Por vezes, retomando consciência, eu próprio me assusto com as tolices que imagino, e alegro-me depois com o resquício de lucidez que me faz parar à borda do precipício.
Num desses acessos de paranóia ocorreu-me  há tempos que, havendo por aí tanta gente capaz na escrita, seria interessante uni-la num blogue e, à maneira dos lavradores dos kolkhozy da União Soviética semeando trigo, juntarmo-nos a escrever um grande romance colectivo.
Imaginam o resultado? As complicações que ia dar? As birras, os ciúmes, as invejas e os ódios que ia haver?
Bem é que a preguiça e o desleixo continuem a ser o meu forte.