sábado, outubro 9

"Até"

A diferença entre nós é quase de cinquenta anos. Recordo bem o puto ranhoso e rameloso que foi, acho graça ao burguês em que se tornou e aos ares que toma, a jovialidade com que disfarça o pouco que sabe e alardeia o muito que ganhou.
Esse muito, acha ele, justifica uma familiaridade tola e, se há terceiros, o à-vontade de me apontar com o dedo, arrotando: "Até já li um livro dele!"
A isso segue-se a informação de que encontrou "um erro de palmatória",  acrescentando: "E então quando é que vai corrigir a data lá no tal livro? A feira sempre foi em Outubro, e pôs Novembro!"
Gargalha satisfeito. Eu sorrio e no íntimo desculpo-o, acho graça àquele "até" e ao "lá no tal livro". Talvez também porque continuo a ver nele o puto que foi.