sexta-feira, novembro 28

Luxos da miséria

A atitude sensata seria encolher os ombros, passar adiante, mas nasci com este feitio, e assim descaem-se-me os cantos da boca, vou de sobrolho franzido, vê-se-me na pele o excesso de bílis.

Que coisas são essas que pouco, muito, de longe, ou de mais perto me perturbam? Exemplos?

Nos confins do nordeste transmontano, em Alfândega da Fé, os ingénuos e os menos ingénuos acreditaram que um vigário lhes ia elevar a vila às alturas de metrópole, com uma Tsunami Beach, luxos mirabolantes, empregos chorudos... Não deu certo, mas há lá agora uma Spa (os jornais escrevem SPA, que faz mais gordo) onde a alta-roda irá tratar da pele. Falaremos daqui a uns meses.

Essa gente de luxo e meios come num restaurante algures no Douro, onde um chefe de fama, “fusiona” (!) a cozinha duriense com a da Amazónia. Nada menos. Afirma o senhor que a experiência para os gourmets sai cara, mas vale a pena e os euros. Assim será. E dane-se quem se endivida para comer

Em Mogadouro há uma espectacular Casa das Artes e Ofícios, um teatro do melhor, tão moderno que até tem garagem subterrânea. Tudo luxuoso, caro, vazio. Mas,citando o que me toca de perto, os seis quilómetros da estrada que liga a nossa aldeia à N220 viram asfalto em 1968, e desde então só remendos. Nela são muitos e grandes os buracos, se bem que anteontem tenha havido melhoria: em nove locais – contei-os - foi espalhado areão nas bermas. O asfalto fica prometido para as eleições.

Paro aqui, não vá o azedume estragar-me a saúde.