segunda-feira, janeiro 29

Coincidências, recordações, lugares

Quatro pessoas. Três histórias.

Ele diz: - A minha vida decidiu-se numa tarde, em Janeiro de 91, em Zurique, no bar do hotel Bauer au Lac. Durante uma conversa entre dois amigos, a que assisti pelo simples acaso de lá ter entrado nesse momento, e a qual, inicialmente, nada tinha a ver comigo. Estranho, não é?

- Vai fazer quase dez anos - conta ela. - No Hotel Tivoli, em Lisboa. Ia deitar-me quando dei conta de que tinha esquecido um recado a um colega que também lá estava hospedado. Ainda me lembro do número do quarto, o 703. Liguei umas quantas vezes, mas como o telefone continuava ocupado, resolvi bater-lhe à porta. Ele veio abrir e, ainda a falar com o aparelho na mão, acenou-me para que entrasse. Se nesse instante me tivessem dito que, passado coisa de uma hora, o meu destino estava marcado, eu acharia uma tolice.

O casal sorri, hesita. A mulher acena-lhe. Finalmente é ele quem fala:
- Deve ter sido predesti­nação. Nós mal nos conhecíamos e da primeira vez fomos castos, trocámos um beijo. Na tarde seguinte en­contrámo-nos no que então se chamava uma maison de rendez-vous. Suponho que a expressão e o fenómeno se acham ultrapassados, mas também é facto que isto aconteceu há séculos. Aí, nessa tarde, as nossas vidas levaram uma reviravolta definitiva. Lembro-me da rua e do número: Heren­gracht 341, em Amster­dam. Anos depois a casa tinha sido transformada em hotel. O quarto é fácil de reconhe­cer: fica no primeiro andar, é o único com varanda para o canal.